História
Já habitada por milhares de anos pelos índios caingangues, a ocupação europeia dos campos de Guarapuava remonta às grandes questões da expansão territorial ibérica na América no século XVI, pois, segundo o Tratado de Tordesilhas, toda a porção centro-oeste do atual estado do Paraná deveria ser de comando espanhol. Entretanto, durante a União Ibérica (1580-1640) (período em que a coroa espanhola dominou o território português), houve um grande número de incursões rumo ao interior do continente a partir da capitania de São Paulo, através de expedições denominadas “bandeiras”.
Após a dissolução da União Ibérica, com o fim da Dinastia Filipina, a expansão portuguesa na América do Sul continuou até chegar às margens do rio da Prata, onde ocorreu a fundação da Colônia do Sacramento, no atual território do Uruguai. Sob efeito desta ameaça expansionista portuguesa é que houve a reformulação do acordo entre os dois países, através do Tratado de Madrid, redefinindo as fronteiras das colônias vinculadas às duas potências da época.
Contudo, a região de Guarapuava continuou sem a presença do domínio europeu até o início do século XIX. A fim de consolidar a posse estratégica deste território, que já havia recebido expedições de reconhecimento no século XVIII, a coroa portuguesa, então sediada no Rio de Janeiro, determinou a organização de uma expedição para ocupar a região através de seu povoamento e garantir a nova fronteira com a Espanha.
A Real Expedição de Conquista e Povoamento dos Campos de Guarapuava, comandada por Diogo Pinto de Azevedo Portugal, chegou à região em 1810[9] e fez construir o Fortim Atalaia, que abrigou as primeiras tropas, seus familiares e povoadores que dela fizeram parte: cerca de 300 famílias. O Fortim Atalaia, construído na região atualmente denominada Palmeirinha, protegeu os componentes da Expedição dos frequentes ataques dos índios, pertencentes às três tribos que habitavam a região (Camés, Votorões e Cayeres ou Dorins).
Ao contrário das expedições anteriores que se fizeram por monções, deslocando-se pelo rio Iguaçu, as de Diogo Pinto foram executadas de forma mais ampla, porque abriram estradas, derrubaram matas, construíram pontes, o que justificou, de maneira geral, a demora da marcha.[10]
Em 1810, os caingangues da região foram vencidos pelas tropas de Diogo Pinto de Azevedo. Assim, os “campos de Koran-bang-rê“, termo pelo qual os caingangues designavam a região, se transformaram na atual cidade de Guarapuava.[11]
Entre 1812 e 1859, Guarapuava foi a primeira localidade brasileira a receber condenados ao degredo pela justiça como forma de ocupar a região com população branca, pois os índios dominavam as matas do interior paranaense.[12]
Oficialmente, a cidade surgiu com a assinatura do Formal de Instalação da Freguesia de Nossa Senhora de Belém, em 9 de dezembro de 1819, momento em que o Padre Francisco das Chagas Lima em concordância com Antônio de Rocha Loures, tenente comandante interino da Real Expedição, determinaram a transferência da freguesia e da Igreja Nossa Senhora de Belém para o local, que, segundo o padre, era o mais adequado para a construção da igreja, a atual sede do município.
Padre Chagas foi uma personagem importante na fase inicial do povoamento, pois procurou iniciar a ocupação baseado em alguns critérios de estética, observando as prescrições contidas na carta régia de 1 de abril de 1809, do Conde Linhares, que já determinava os padrões a serem seguidos pelas edificações. Como ponto gerador do núcleo, cita-se a Catedral de Nossa Senhora de Belém, que era um ponto referencial importante para a sociedade da época. O primeiro prefeito de Guarapuava foi o coronel Pedro Lustosa de Siqueira.
No ano de 1852, no dia 17 de julho, o povoado Nossa Senhora de Belém foi elevado à categoria de vila, ainda pertencente à província de São Paulo. Em 2 de maio de 1859, foi criada a comarca de Guarapuava, sendo José Antônio Araújo de Vasconcelos o seu primeiro juiz de direito. A Vila Nossa Senhora de Belém recebeu foros de município no dia 12 de abril de 1871 pela Lei 271, sendo desmembrada do município de Castro.